quarta-feira, 31 de julho de 2019

Chico Buarque - O Sambista (2000)

É difícil reunir num só CD as melhores canções de Chico Buarque de Hollanda. Esta coletânea, então, colocou os holofotes sobre os sambas gravados pelo cantor. Em 1970, por exemplo, ao retornar do exílio de um ano na Itália, Chico acreditou realmente que encontraria um Brasil melhor. Que nada. A ditadura ainda corria solta! Decepcionado, compôs e gravou o samba "Apesar de Você". 

Aparentemente falando de uma dor de cotovelo, de um amor desfeito ("Apesar de você /Amanhã há de ser um novo dia"), a música trazia, na verdade, uma pesada crítica à repressão que o país vivia. Curiosamente, a aparente estória de uma briga de casal fez o governo deixar a música passar batida pela censura e  estourar nas rádios! Depois de alguns meses, caiu a ficha: os versos "(...) Hoje você é quem manda/Falou, tá falado/Não tem discussão, não (...)" e "(...) Você que inventou esse Estado/Inventou de inventar/Toda escuridão/Você que inventou o pecado/Esqueceu-se de inventar o perdão (...)" não pareciam, de fato, sobre uma simples discussão de casal. O governo revoltou-se, mandou recolher e destruir todos os discos das lojas. Mas muito já havia sido vendido: cerca de 100 mil cópias. O sucesso já estava feito!

Na mesma linha veio "Meu Caro Amigo", em 1976. Composta pelo próprio Chico e por Francis Hime, a música é um recado para o teatrólogo Augusto Boal, que estava em exílio em Portugal .Boal queria notícias do Brasil e a dupla enviou uma fita cassete com a música para ele. Os versos nem disfarçavam: "(...) Aqui na terra tão jogando futebol/Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll/Uns dias chove, noutros dias bate sol/Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta /(...) Muita careta pra engolir a transação/E a gente tá engolindo cada sapo no caminho/E a gente vai se amando que, também, sem um carinho/Ninguém segura esse rojão (...)". Apesar da letra, a música, misteriosamente, não foi censurada.

Já em 1984, a espetacular "Vai Passar", um samba-enredo também em parceria com Francis Hime, comemorava o movimento "Diretas-Já" e a redemocratização do país: "Vai passar/Pela avenida o samba popular (...)/Ai que vida boa olerê, ai que vida boa olará (...)".  Do mesmo álbum, "Pelas Tabelas" mistura esse mesmo sentimento com a procura por "ela" em meio a multidão - que, aqui, pode nem ser uma pessoa; é mais provável que "ela" seja a democracia: "Ando com a minha cabeça já pelas tabelas /Claro que ninguém se toca com minha aflição /Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela/Eu achei que era ela puxando um cordão (...)".

O CD traz também a bem-humorada "Deixe a Menina" e uma parceria com Vinícius de Moraes, "Samba de Orly", que também cutucava a ditadura brasileira.


01- Feijoada Completa    [02:51]
02- Acorda Amor    [02:22]
03- Samba de Orly    [02:41]
04- O Meu Guri    [03:58]
05- Samba do Grande Amor    [02:08]
06- Homenagem ao Malandro    [02:59]
07- Meu Caro Amigo    [04:13]
08- Cotidiano    [02:49]
09- Pelas Tabelas    [04:22]
10- Desalento    [02:48]
11- Deixe A Menina    [02:45]
12- Almanaque    [03:29]
13- Apesar de Você    [03:51]
14- Vai Passar    [06:03]


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