Gal Costa - Profana (1984)

Num época em que o governo não tolerava a ideia de democracia e a ditadura imperava no Brasil, Gal ousou ao lançar "Profana". Abrindo o disco, uma música que mencionava descaradamente a palavra "tetas" não podia ser aceita, pois era uma afronta à moral e aos bons costumes. Não deu outra: foi censurada para execução pública (leia-se: TV e estações de rádio). Mas não foi só por mencionar "tetas" que a música foi vetada. Mais adiante na letra,  os versos "Derrama o leite bom na minha cara/E o leite mau na cara dos caretas" dava margem a inúmeras interpretações - nenhuma delas muito agradável. Afinal, o que o autor da música, Caetano Veloso, queria dizer com "derramar leite" na cara dos outros? Leite bom? Leite mau? Não pegou bem. E quem seriam os caretas? Aqueles que se conformavam com o governo atual? Aqueles que se opunham ao fumo de haxixe (chamados de "puretas", na Espanha da época, também mencionado por Caetano)? Justamente por não poder ser executada publicamente, "Vaca Profana" caiu no gosto do povo, principalmente pelos que lutavam pelas "Diretas Já", pois entenderam a letra como um protesto ao regime opressor instalado no país, embora a maior parte das referências  não fale exatamente do Brasil, mas da Espanha, ao citar "Também Te Mata Barcelona" (em um jogo de palavras sobre a revista de música espanhola "Madri Te Mata"), "Orchata de Chufa" (uma bebida muito comum na Catalunha, uma nação espanhola) e "Las Ramblas", uma rua que liga a Praça da Catalunha a Porto Velho, em Barcelona.

O sucesso do disco não pára por aí, claro. O álbum brilhou com "Chuva de Prata" (que traz a participação de Roupa Nova),  "Nada Mais" (versão em português de "Lately", de Stevie Wonder), "Onde Está o Dinheiro?", uma marchinha de carnaval de autoria de José Maria de Abreu, Francisco Mattoso e Paulo Barbosa, e "De Volta Ao Começo", de Gonzaguinha. Este é um LP (ou CD) que vale a pena até para quem não é fã da cantora. Uma referência histórica.

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